Trajetória Histórica

O conceito de educação atual deriva do conceito grego de paideia, que traduz um modo específico de compreender e implementar atos educacionais, refletindo a noção helênica da arte de educar.

Originalmente, o conceito abrangia funções e atuações que transcendem a mera transmissão de conhecimento teórico e mesmo prático.

Como afirma Tokuhama-Espinoza, pesquisadora da Mind, Brain and Education Science, os relatos mais antigos sobre educação de forma geral remontam à paideia, na Grécia. Na sua essência, ela se baseava na responsabilidade mútua entre indivíduo e comunidade. Desse modo, a percepção que se tinha do ser humano era de um ser integrado, não apenas consigo em sua individualidade e subjetividade, mas também com o entorno. Tratava-se de uma aprendizagem completa, integrada e contextualizada.

Na evolução dos séculos, o conhecimento se metamorfoseou, sobretudo a partir do Iluminismo, e contribuiu para o surgimento de uma nova visão dos saberes e da própria educação. Não demorou, e a ciência iniciou sua marcha rumo a um conhecimento pretensamente imparcial, cético e sistematizado. Passou-se a considerar, então, a natureza como objeto de estudo fora do indivíduo, sendo este um sujeito que age sobre o meio para produzir conhecimento e transformá-lo, a fim de proporcionar melhor qualidade de vida para si e sua comunidade.

Mais tarde, no século XVIII, com a primeira Revolução Industrial, deu-se o surgimento das fábricas e a necessidade de se treinar pessoas para trabalharem nesse novo mercado operando maquinários e equipamentos. A racionalidade cartesiana foi de grande utilidade para o desenvolvimento de uma educação voltada para a técnica e dependente da fragmentação dos saberes.

Nesse contexto, tornou-se ainda mais claro o afastamento dos ideais da aprendizagem contidos na paideia. A educação moderna, com sua vocação para a formação técnica, permanece entre nós, com todos os vícios e virtudes da filosofia cartesiana e seu dualismo que, por opção, desafetivou os acontecimentos em nome de um pragmatismo que fragmenta o ser humano e rejeita a compreensão de sua unicidade existencial.

Essa crítica não é nova e ganhou notoriedade a partir da teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner, para quem apenas a inteligência lógico-matemática e a inteligência linguística são exploradas nos processos educacionais e em suas avaliações.

A neuroeducação surge na esteira desse modelo educacional, e se mostra – a partir de suas premissas e de suas potencialidades – como uma vertente das neurociências que possibilita o resgate, por parte dos educadores, da essência contida na paideia.

O que é?

Neuroeducação é um ramo do conhecimento científico cuja existência e desenvolvimento só se tornou possível graças à evolução dos estudos do cérebro, objeto específico das neurociências, cujos pesquisadores têm se debruçado sobre o sistema nervoso e suas influências no comportamento humano.

Esses últimos estudos ganharam nova dimensão com o advento das tecnologias de escaneamento das estruturas do cérebro, permitindo não só conhecer suas configurações típicas, como identificar atipias e estudar suas influências no comportamento.

Se, antes dessa nova era, as práticas educacionais tinham como aliada a psicologia e seus instrumentos de estudos sobre as condutas e suas causas e consequências, agora essas três áreas do saber convergem para potencializar os estudos sobre aprendizagem, possibilitando interferências positivas nos fatores determinantes da capacidade dos aprendentes.

Assim, é correto considerar a Neuroeducação como a articulação e integração das Neurociências e as Ciências da Educação, o que lhe confere caráter eminentemente transdisciplinar, permitindo uma abordagem mais complexa acerca dos processos educacionais.

Uma característica da Neuroeducação, que representa uma enorme vantagem comparativa com outros saberes relacionados à educação, é exatamente essa capacidade de olhar para o aprendente de modo integral. A educação, na perspectiva da psicologia cognitiva e comportamental, somada aos aportes das neurociências à condição neurofisiológica dos seres humanos, não pode mais aceitar a fragmentação do ser que aprende, pois uma visão global sobre o mesmo tem se tornado possível. Aprender é uma capacidade que nasce com todo ser humano e que é desenvolvida ao longo de toda a sua vida.

Embora seja uma ciência relativamente nova, a Neuroeducação tem experimentado grande reconhecimento mundial na medida em que procura levar para a prática diária dos educadores, e demais profissionais envolvidos com o desenvolvimento humano, descobertas importantes sobre os processos de aprendizagem, memória, atenção, processamento de informações, aquisição da linguagem oral e escrita e outros conhecimentos acerca do desenvolvimento humano.

Entender os aspectos neurobiológicos relacionados à aprendizagem, às habilidades e às deficiências de cada indivíduo ajuda educadores e pais na tarefa de educar. Elaborar ações educativas com base no conhecimento das neurociências é dispor de ferramentas capazes de analisar o percurso da aprendizagem para que se alcance o potencial individual de desenvolvimento e aprendizagem.

Objetivos

Os objetivos da Neuroeducação podem ser resumidos na pretensão, cientificamente embasada, de transformar as práticas de aprendizagem e de ensino a partir do conhecimento do funcionamento do sistema nervoso central.

Os agentes ativos da Neuroeducação são denominados neuroeducadores, e são eles os responsáveis pela transformação do paradigma educacional, que deixa de ter foco naquele que ensina e passa a considerar aquele que aprende e suas características neurofisiológicas.

Igualmente, as práticas educacionais recebem, em adição crítica aos seus pressupostos tradicionais, fundamentos colhidos na neurofisiologia e no modo como cérebro interage com os fenômenos a que estão expostos os aprendentes.

As atividades neuroeducacionais podem ser implementadas em todos os ambientes em que a informação precisa ser apreendida e incorporada a certo feixe de conhecimentos. Por elas, os neuroeducadores podem otimizar a aprendizagem insuficiente, com o fim de alcançar melhores resultados, assim como potencializar a aprendizagem aumentando o desempenho do indivíduo, independentemente de sua condição.

Objetivo Geral

Conduzir, de forma prática e aplicada, profissionais ligados à área da aprendizagem (em todos os âmbitos), ao conjunto de conhecimentos que compõem a Neuroeducação no sentido de auxiliar em sua formação para que possam identificar, compreender e criar estratégias, desenvolver e estimular processos neurocognitivos fundamentais envolvidos no ato de aprender, criando métodos eficazes de ensino-aprendizagem.

Objetivos Específicos
  • Compreender as bases neurocientíficas dos processos envolvidos na aprendizagem a fim de potencializá-los e garantir melhoria dos processos de ensino-aprendizagem;
  • Identificar perfis neuropsicológicos no desenvolvimento normal e nos principais transtornos do desenvolvimento que podem interferir na aprendizagem, valorizando competências e habilidades dos aprendentes, independentemente de sua condição;
  • Desenvolver estratégias de ensino que possam ser aplicadas na educação especial visando os processos inclusivos;
  • Expandir a compreensão do objeto das demais ciências com os aportes da Neuroeducação;
  • Potencializar a governança corporativa a partir das premissas neuroeducacionais.
A Autonomia da Neuroeducação

Se a Neuroeducação é uma ciência transdisciplinar, ela reúne conhecimento de várias áreas. No entanto, ela integra esses conhecimentos produzindo uma visão inovadora, única e holística sobre os processos de aprendizagem, os quais não se restringem a espaços formais de educação, podendo atuar em empresas, clínicas, hospitais, órgãos públicos e privados.

É importante registrar que a Neuroeducação não conflita com outras ciências, tais como a neuropsicopedagogia, neuropsicologia, psicopedagogia, medicina, fonoaudiologia, pedagogia, nem qualquer outra área que já tenha estabelecido suas bases no cenário médico e/ou educacional.

Portanto, a presença da Neuroeducação no mercado e no cenário de aprendizagem, acontece de forma inovadora, autônoma e complementar, instrumentalizando os profissionais da aprendizagem para o desenvolvimento de estratégias educacionais, concepção e escolha de metodologias e recursos, precedidos de uma visão neurocientífica da aprendizagem.

A Relevância da Neuroeducação

Os fundamentos da Neuroeducação ganharam relevância com a evolução da compreensão das práticas educacionais e sua complexidade.

Tome-se como exemplo o advento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cuja derradeira versão apresenta expectativas educacionais neurocientificamente concebidas.

Efetivamente, os marcos do desenvolvimento foram concebidos a partir de conhecimentos neurocientíficos, tornando indispensável a atuação do neuroeducador, profissional cuja formação o capacita a compreender os pressupostos da BNCC e intervir nos processos de aprendizagem, tudo segundo as neurociências.

Para além de propostas oficiais norteadoras da educação brasileira, a Neuroeducação dispõe de instrumentos aptos a potencializar todos os processos de aprendizagem, seja em ambientes acadêmicos, clínicos ou empresariais.